Capitulo III
A depravação da humanidade, que começou a manifestar-se no tempo de Enos, havia se multiplicado enormemente no tempo de seu neto Jarede, devido à queda dos anjos. Quando viram as belas e atraentes filhas dos homens, os anjos cobiçaram-nas, e disseram:
– Tomaremos esposas apenas dentre as filhas dos homens, e geraremos filhos com elas.
Seu líder Shemhazai disse:
– Temo por mim que vocês não coloquem esse plano de vocês em execução, e seja apenas eu a sofrer as conseqüências de um grande pecado.
E eles todos responderam:
– Faremos um juramento, comprometendo-nos individualmente e em grupo a não abandonarmos o plano, mas levá-lo a cabo.
Duzentos anjos desceram ao cume do monte Hermom, que deve seu nome a esta precisa ocasião, pois os anjos haviam jurado cumprir seu propósito sob pena de Herem/anátema. Sob a liderança de dezoito capitães eles se macularam com as filhas dos homens, às quais ensinaram feitiços, encantos, o modo correto de se cortar raízes e a eficácia das plantas. A donzela piedosa, Naamah, a atraente irmã de Tubal-Caim, desencaminhou os anjos com sua beleza, e da sua união com Shamdon nasceu o demônio Asmodeu. Ela era despudorada como todos os descendentes de Caim, e como eles propensa a indulgências bestiais. O fruto dessas alianças entre os anjos e as mulheres cainitas foram os gigantes, conhecidos por sua força e pecaminosidade; como indica o próprio nome que receberam Emim/aterrorizantes, os gigantes inspiravam temor. Tiveram além desse muitos outros nomes. Às vezes eram chamados Refaim/fantasmas, porque bastava olhar para eles para enfraquecer o coração; ou eram chamados simplesmente de Gibborim/gigantes, porque eram tão enormes que suas coxas mediam dezoito varas; ou pelo nome Zamzummin, porque eram grandes mestres da guerra; ou pelo nome Anakim/pescoçudos, porque tocavam o sol com seus pescoços; ou pelo nome Ivim, porque, como a serpente, sabia julgar as qualidades do solo; ou, finalmente, pelo nome Nefilim/caídos, porque, ao ocasionarem a queda do mundo, eles mesmos caíram.
O resultado desses casamentos mistos foi uma raça de gigantes de três mil varas de altura, os quais consumiram os recursos dos homens. Quando todas as reservas haviam se esgotado, e vendo que não podiam obter mais nada deles, os gigantes voltaram-se contra os homens e devoraram muitos deles, e o restante dos homens começou a transgredir contra as aves, animais selvagens, répteis e peixes, comendo sua carne e bebendo seu sangue.
A terra então protestou contra esses malfeitores, mas os anjos decaídos continuaram a corromper a humanidade. Azazel ensinou os homens a fazerem facas, armas, escudos e cotas de malha para usarem em carnificinas. Mostrou-lhes os metais e como trabalhá-los, bem como pulseiras e toda espécie de quinquilharias; ensinou-os a usar ruge nos olhos e a embelezarem os cílios, e a se enfeitarem com as jóias mais raras e preciosas e toda sorte de tintas. O chefe dos anjos caídos, Shemhazai, instruiu-os a respeito de exorcismos e da técnica de cortar raízes; Armaros ensinou-os a conjurarem feitiços; Barakel, a divinação pelas estrelas; Kawkabel, a astrologia; Ezekil, a augurar através das nuvens; Arakiel, a ler os sinais da terra; Samsawil, os sinais do sol; e Seriel, os sinais da lua. Além disso, eles são cultuados como os grandes valentes da antiguidade, os mitos dos povos e os deuses das nações.
Os anjos caídos precisavam se apossar dessa nova natureza. Então começaram a comer animais vivos. No dia seguinte amanheciam sem sangue ou mordidos e despedaçados. Os Nephilins bebiam sangue humano porque sabiam que sangue e alma têm uma relação visceral.
Enquanto todas essas abominações corrompiam a terra, o piedoso Enoque vivia num lugar secreto. Ninguém dentre os homens conhecia seu local de residência, ou sabia o que havia acontecido com ele, pois ele habitava com os anjos sentinelas e os santos.
Depois de viver por um longo tempo afastado dos homens, Enoque ouviu certa ocasião um anjo que o chamava:
– Enoque, Enoque, prepare-se e abandone a casa e o lugar secreto em que você tem se escondido, e assuma autoridade sobre os homens, para ensinar-lhes os caminhos em que devem andar e as obras que devem praticar a fim de viverem em conformidade com Deus.
Enoque abandonou sua reclusão e foi até aos locais freqüentados pelos homens, juntou-os ao redor de sim e instruiu-os na conduta agradável a Deus. Mandou mensageiros a todos os lugares para anunciar: “Vocês que desejam conhecer os caminhos de Deus e uma conduta íntegra, venham até Enoque”!
Por causa disso um vasto número de pessoas congregou-se ao redor dele, a fim de ouvirem a sabedoria que ele estava pronto a ensinar e aprenderem da sua boca o que é certo e errado. Até mesmo reis e príncipes, nada menos do que trinta deles, uniram-se a Enoque e submeteram-se à sua autoridade, para serem ensinados e guiados por ele da mesma forma que ele ensinava e guiava os demais.
Certo dia, enquanto Enoque dava audiências a seus seguidores, um anjo apareceu e lhe fez saber que Deus havia decidido estabelecê-lo como rei sobre todos os anjos da terra, já que até aquele momento ele havia reinado sobre homens. Enoque convocou todos os habitantes da terra e disse-lhes assim:
– Fui chamado para subir ao céu, e não sei o dia em que deverei ir para lá. Irei, portanto ensiná-los sabedoria e integridade até a hora de partir.
Quando se completaram trinta dias o Senhor enviou escuridão sobre a terra, e uma penumbra ocultou os homens que estavam com Enoque. Os anjos apressaram-se em tomar Enoque e carregaram-no ao céu mais elevado, onde o Senhor o recebeu e colocou-o diante de sua face; a escuridão então abandonou a terra, e houve luz. As pessoas voltaram a ver e não compreenderam que Enoque havia sido tomado, e glorificaram a Deus.
Depois do traslado de Enoque, Matusalém foi proclamado governante da terra por todos os reis. Ele seguiu nas pegadas do pai, ensinando a verdade, o conhecimento e o temor de Deus aos filhos dos homens durante toda a sua vida, sem desviar-se do caminho da retidão nem para a esquerda nem para a direita.
Matusalém livrou o mundo de milhares de demônios, a posteridade que Adão havia gerado com Lilith, a mais demoníaca entre os demônios-fêmea. Esses demônios e espíritos malignos buscavam ferir e mesmo matar qualquer homem que encontrassem, até que Matusalém apareceu suplicando pela misericórdia de Deus.
Ele passou três dias em jejum, depois do que Deus deu a ele permissão de escrever o seu Nome Inefável numa espada, com a qual matou noventa e quatro miríades de demônios num único minuto – até que Agrimus, o primogênito dentre eles, veio até Matusalém implorando que ele parasse, ao mesmo tempo em que lhe entregou os nomes dos demônios e diabretes. Assim Matusalém prendeu os reis deles em cadeias de ferro, enquanto que os restantes fugiram e esconderam-se nas câmaras e recessos mais interiores do oceano. E foi por causa dessa maravilhosa espada, por meio da qual os demônios foram mortos, é que ele recebeu o nome de Matusalém/homem da lança. Quando Noé nasceu seguiu os passos de seu avô Matusalém, enquanto todos os outros homens voltaram-se contra esse piedoso rei.
Era homem tão piedoso que compunha duzentas e trinta parábolas em louvor a Deus para cada palavra que proferia. Quando ele morreu as pessoas ouviram uma grande comoção no céu, e viram novecentas fileiras de lamentadores, correspondendo às novecentas ordens da Mishná que ele havia estudado, e lágrimas rolaram dos seres santos sobre o lugar em que ele havia morrido. Vendo a dor dos celestiais, as pessoas na terra também lamentaram o fim de Matusalém, e Deus por essa razão os recompensou, acrescentando sete dias ao tempo de graça que havia ordenado antes de trazer a destruição sobre a terra por meio de um dilúvio de água.
“Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si como mulheres as que, entre todas, mais lhe agradaram.”
Gênesis 6:2
Gênesis 6:2
A depravação da humanidade, que começou a manifestar-se no tempo de Enos, havia se multiplicado enormemente no tempo de seu neto Jarede, devido à queda dos anjos. Quando viram as belas e atraentes filhas dos homens, os anjos cobiçaram-nas, e disseram:
– Tomaremos esposas apenas dentre as filhas dos homens, e geraremos filhos com elas.
Seu líder Shemhazai disse:
– Temo por mim que vocês não coloquem esse plano de vocês em execução, e seja apenas eu a sofrer as conseqüências de um grande pecado.
E eles todos responderam:
– Faremos um juramento, comprometendo-nos individualmente e em grupo a não abandonarmos o plano, mas levá-lo a cabo.
Duzentos anjos desceram ao cume do monte Hermom, que deve seu nome a esta precisa ocasião, pois os anjos haviam jurado cumprir seu propósito sob pena de Herem/anátema. Sob a liderança de dezoito capitães eles se macularam com as filhas dos homens, às quais ensinaram feitiços, encantos, o modo correto de se cortar raízes e a eficácia das plantas. A donzela piedosa, Naamah, a atraente irmã de Tubal-Caim, desencaminhou os anjos com sua beleza, e da sua união com Shamdon nasceu o demônio Asmodeu. Ela era despudorada como todos os descendentes de Caim, e como eles propensa a indulgências bestiais. O fruto dessas alianças entre os anjos e as mulheres cainitas foram os gigantes, conhecidos por sua força e pecaminosidade; como indica o próprio nome que receberam Emim/aterrorizantes, os gigantes inspiravam temor. Tiveram além desse muitos outros nomes. Às vezes eram chamados Refaim/fantasmas, porque bastava olhar para eles para enfraquecer o coração; ou eram chamados simplesmente de Gibborim/gigantes, porque eram tão enormes que suas coxas mediam dezoito varas; ou pelo nome Zamzummin, porque eram grandes mestres da guerra; ou pelo nome Anakim/pescoçudos, porque tocavam o sol com seus pescoços; ou pelo nome Ivim, porque, como a serpente, sabia julgar as qualidades do solo; ou, finalmente, pelo nome Nefilim/caídos, porque, ao ocasionarem a queda do mundo, eles mesmos caíram.
O resultado desses casamentos mistos foi uma raça de gigantes de três mil varas de altura, os quais consumiram os recursos dos homens. Quando todas as reservas haviam se esgotado, e vendo que não podiam obter mais nada deles, os gigantes voltaram-se contra os homens e devoraram muitos deles, e o restante dos homens começou a transgredir contra as aves, animais selvagens, répteis e peixes, comendo sua carne e bebendo seu sangue.
A terra então protestou contra esses malfeitores, mas os anjos decaídos continuaram a corromper a humanidade. Azazel ensinou os homens a fazerem facas, armas, escudos e cotas de malha para usarem em carnificinas. Mostrou-lhes os metais e como trabalhá-los, bem como pulseiras e toda espécie de quinquilharias; ensinou-os a usar ruge nos olhos e a embelezarem os cílios, e a se enfeitarem com as jóias mais raras e preciosas e toda sorte de tintas. O chefe dos anjos caídos, Shemhazai, instruiu-os a respeito de exorcismos e da técnica de cortar raízes; Armaros ensinou-os a conjurarem feitiços; Barakel, a divinação pelas estrelas; Kawkabel, a astrologia; Ezekil, a augurar através das nuvens; Arakiel, a ler os sinais da terra; Samsawil, os sinais do sol; e Seriel, os sinais da lua. Além disso, eles são cultuados como os grandes valentes da antiguidade, os mitos dos povos e os deuses das nações.
Os anjos caídos precisavam se apossar dessa nova natureza. Então começaram a comer animais vivos. No dia seguinte amanheciam sem sangue ou mordidos e despedaçados. Os Nephilins bebiam sangue humano porque sabiam que sangue e alma têm uma relação visceral.
Enquanto todas essas abominações corrompiam a terra, o piedoso Enoque vivia num lugar secreto. Ninguém dentre os homens conhecia seu local de residência, ou sabia o que havia acontecido com ele, pois ele habitava com os anjos sentinelas e os santos.
Depois de viver por um longo tempo afastado dos homens, Enoque ouviu certa ocasião um anjo que o chamava:
– Enoque, Enoque, prepare-se e abandone a casa e o lugar secreto em que você tem se escondido, e assuma autoridade sobre os homens, para ensinar-lhes os caminhos em que devem andar e as obras que devem praticar a fim de viverem em conformidade com Deus.
Enoque abandonou sua reclusão e foi até aos locais freqüentados pelos homens, juntou-os ao redor de sim e instruiu-os na conduta agradável a Deus. Mandou mensageiros a todos os lugares para anunciar: “Vocês que desejam conhecer os caminhos de Deus e uma conduta íntegra, venham até Enoque”!
Por causa disso um vasto número de pessoas congregou-se ao redor dele, a fim de ouvirem a sabedoria que ele estava pronto a ensinar e aprenderem da sua boca o que é certo e errado. Até mesmo reis e príncipes, nada menos do que trinta deles, uniram-se a Enoque e submeteram-se à sua autoridade, para serem ensinados e guiados por ele da mesma forma que ele ensinava e guiava os demais.
Certo dia, enquanto Enoque dava audiências a seus seguidores, um anjo apareceu e lhe fez saber que Deus havia decidido estabelecê-lo como rei sobre todos os anjos da terra, já que até aquele momento ele havia reinado sobre homens. Enoque convocou todos os habitantes da terra e disse-lhes assim:
– Fui chamado para subir ao céu, e não sei o dia em que deverei ir para lá. Irei, portanto ensiná-los sabedoria e integridade até a hora de partir.
Quando se completaram trinta dias o Senhor enviou escuridão sobre a terra, e uma penumbra ocultou os homens que estavam com Enoque. Os anjos apressaram-se em tomar Enoque e carregaram-no ao céu mais elevado, onde o Senhor o recebeu e colocou-o diante de sua face; a escuridão então abandonou a terra, e houve luz. As pessoas voltaram a ver e não compreenderam que Enoque havia sido tomado, e glorificaram a Deus.
Depois do traslado de Enoque, Matusalém foi proclamado governante da terra por todos os reis. Ele seguiu nas pegadas do pai, ensinando a verdade, o conhecimento e o temor de Deus aos filhos dos homens durante toda a sua vida, sem desviar-se do caminho da retidão nem para a esquerda nem para a direita.
Matusalém livrou o mundo de milhares de demônios, a posteridade que Adão havia gerado com Lilith, a mais demoníaca entre os demônios-fêmea. Esses demônios e espíritos malignos buscavam ferir e mesmo matar qualquer homem que encontrassem, até que Matusalém apareceu suplicando pela misericórdia de Deus.
Ele passou três dias em jejum, depois do que Deus deu a ele permissão de escrever o seu Nome Inefável numa espada, com a qual matou noventa e quatro miríades de demônios num único minuto – até que Agrimus, o primogênito dentre eles, veio até Matusalém implorando que ele parasse, ao mesmo tempo em que lhe entregou os nomes dos demônios e diabretes. Assim Matusalém prendeu os reis deles em cadeias de ferro, enquanto que os restantes fugiram e esconderam-se nas câmaras e recessos mais interiores do oceano. E foi por causa dessa maravilhosa espada, por meio da qual os demônios foram mortos, é que ele recebeu o nome de Matusalém/homem da lança. Quando Noé nasceu seguiu os passos de seu avô Matusalém, enquanto todos os outros homens voltaram-se contra esse piedoso rei.
Era homem tão piedoso que compunha duzentas e trinta parábolas em louvor a Deus para cada palavra que proferia. Quando ele morreu as pessoas ouviram uma grande comoção no céu, e viram novecentas fileiras de lamentadores, correspondendo às novecentas ordens da Mishná que ele havia estudado, e lágrimas rolaram dos seres santos sobre o lugar em que ele havia morrido. Vendo a dor dos celestiais, as pessoas na terra também lamentaram o fim de Matusalém, e Deus por essa razão os recompensou, acrescentando sete dias ao tempo de graça que havia ordenado antes de trazer a destruição sobre a terra por meio de um dilúvio de água.