Nephilins – A queda dos Anjos

Capitulo III

“Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si como mulheres as que, entre todas, mais lhe agradaram.”
Gênesis 6:2

A depravação da humanidade, que começou a manifestar-se no tempo de Enos, havia se multiplicado enormemente no tempo de seu neto Jarede, devido à queda dos anjos. Quando viram as belas e atraentes filhas dos homens, os anjos cobiçaram-nas, e disseram:
– Tomaremos esposas apenas dentre as filhas dos homens, e geraremos filhos com elas.
Seu líder Shemhazai disse:
– Temo por mim que vocês não coloquem esse plano de vocês em execução, e seja apenas eu a sofrer as conseqüências de um grande pecado.
E eles todos responderam:
– Faremos um juramento, comprometendo-nos individualmente e em grupo a não abandonarmos o plano, mas levá-lo a cabo.
Duzentos anjos desceram ao cume do monte Hermom, que deve seu nome a esta precisa ocasião, pois os anjos haviam jurado cumprir seu propósito sob pena de Herem/anátema. Sob a liderança de dezoito capitães eles se macularam com as filhas dos homens, às quais ensinaram feitiços, encantos, o modo correto de se cortar raízes e a eficácia das plantas. A donzela piedosa, Naamah, a atraente irmã de Tubal-Caim, desencaminhou os anjos com sua beleza, e da sua união com Shamdon nasceu o demônio Asmodeu. Ela era despudorada como todos os descendentes de Caim, e como eles propensa a indulgências bestiais. O fruto dessas alianças entre os anjos e as mulheres cainitas foram os gigantes, conhecidos por sua força e pecaminosidade; como indica o próprio nome que receberam Emim/aterrorizantes, os gigantes inspiravam temor. Tiveram além desse muitos outros nomes. Às vezes eram chamados Refaim/fantasmas, porque bastava olhar para eles para enfraquecer o coração; ou eram chamados simplesmente de Gibborim/gigantes, porque eram tão enormes que suas coxas mediam dezoito varas; ou pelo nome Zamzummin, porque eram grandes mestres da guerra; ou pelo nome Anakim/pescoçudos, porque tocavam o sol com seus pescoços; ou pelo nome Ivim, porque, como a serpente, sabia julgar as qualidades do solo; ou, finalmente, pelo nome Nefilim/caídos, porque, ao ocasionarem a queda do mundo, eles mesmos caíram.
O resultado desses casamentos mistos foi uma raça de gigantes de três mil varas de altura, os quais consumiram os recursos dos homens. Quando todas as reservas haviam se esgotado, e vendo que não podiam obter mais nada deles, os gigantes voltaram-se contra os homens e devoraram muitos deles, e o restante dos homens começou a transgredir contra as aves, animais selvagens, répteis e peixes, comendo sua carne e bebendo seu sangue.
A terra então protestou contra esses malfeitores, mas os anjos decaídos continuaram a corromper a humanidade. Azazel ensinou os homens a fazerem facas, armas, escudos e cotas de malha para usarem em carnificinas. Mostrou-lhes os metais e como trabalhá-los, bem como pulseiras e toda espécie de quinquilharias; ensinou-os a usar ruge nos olhos e a embelezarem os cílios, e a se enfeitarem com as jóias mais raras e preciosas e toda sorte de tintas. O chefe dos anjos caídos, Shemhazai, instruiu-os a respeito de exorcismos e da técnica de cortar raízes; Armaros ensinou-os a conjurarem feitiços; Barakel, a divinação pelas estrelas; Kawkabel, a astrologia; Ezekil, a augurar através das nuvens; Arakiel, a ler os sinais da terra; Samsawil, os sinais do sol; e Seriel, os sinais da lua. Além disso, eles são cultuados como os grandes valentes da antiguidade, os mitos dos povos e os deuses das nações.
Os anjos caídos precisavam se apossar dessa nova natureza. Então começaram a comer animais vivos. No dia seguinte amanheciam sem sangue ou mordidos e despedaçados. Os Nephilins bebiam sangue humano porque sabiam que sangue e alma têm uma relação visceral.
Enquanto todas essas abominações corrompiam a terra, o piedoso Enoque vivia num lugar secreto. Ninguém dentre os homens conhecia seu local de residência, ou sabia o que havia acontecido com ele, pois ele habitava com os anjos sentinelas e os santos.
Depois de viver por um longo tempo afastado dos homens, Enoque ouviu certa ocasião um anjo que o chamava:
– Enoque, Enoque, prepare-se e abandone a casa e o lugar secreto em que você tem se escondido, e assuma autoridade sobre os homens, para ensinar-lhes os caminhos em que devem andar e as obras que devem praticar a fim de viverem em conformidade com Deus.
Enoque abandonou sua reclusão e foi até aos locais freqüentados pelos homens, juntou-os ao redor de sim e instruiu-os na conduta agradável a Deus. Mandou mensageiros a todos os lugares para anunciar: “Vocês que desejam conhecer os caminhos de Deus e uma conduta íntegra, venham até Enoque”!
Por causa disso um vasto número de pessoas congregou-se ao redor dele, a fim de ouvirem a sabedoria que ele estava pronto a ensinar e aprenderem da sua boca o que é certo e errado. Até mesmo reis e príncipes, nada menos do que trinta deles, uniram-se a Enoque e submeteram-se à sua autoridade, para serem ensinados e guiados por ele da mesma forma que ele ensinava e guiava os demais.
Certo dia, enquanto Enoque dava audiências a seus seguidores, um anjo apareceu e lhe fez saber que Deus havia decidido estabelecê-lo como rei sobre todos os anjos da terra, já que até aquele momento ele havia reinado sobre homens. Enoque convocou todos os habitantes da terra e disse-lhes assim:
– Fui chamado para subir ao céu, e não sei o dia em que deverei ir para lá. Irei, portanto ensiná-los sabedoria e integridade até a hora de partir.
Quando se completaram trinta dias o Senhor enviou escuridão sobre a terra, e uma penumbra ocultou os homens que estavam com Enoque. Os anjos apressaram-se em tomar Enoque e carregaram-no ao céu mais elevado, onde o Senhor o recebeu e colocou-o diante de sua face; a escuridão então abandonou a terra, e houve luz. As pessoas voltaram a ver e não compreenderam que Enoque havia sido tomado, e glorificaram a Deus.
Depois do traslado de Enoque, Matusalém foi proclamado governante da terra por todos os reis. Ele seguiu nas pegadas do pai, ensinando a verdade, o conhecimento e o temor de Deus aos filhos dos homens durante toda a sua vida, sem desviar-se do caminho da retidão nem para a esquerda nem para a direita.
Matusalém livrou o mundo de milhares de demônios, a posteridade que Adão havia gerado com Lilith, a mais demoníaca entre os demônios-fêmea. Esses demônios e espíritos malignos buscavam ferir e mesmo matar qualquer homem que encontrassem, até que Matusalém apareceu suplicando pela misericórdia de Deus.
Ele passou três dias em jejum, depois do que Deus deu a ele permissão de escrever o seu Nome Inefável numa espada, com a qual matou noventa e quatro miríades de demônios num único minuto – até que Agrimus, o primogênito dentre eles, veio até Matusalém implorando que ele parasse, ao mesmo tempo em que lhe entregou os nomes dos demônios e diabretes. Assim Matusalém prendeu os reis deles em cadeias de ferro, enquanto que os restantes fugiram e esconderam-se nas câmaras e recessos mais interiores do oceano. E foi por causa dessa maravilhosa espada, por meio da qual os demônios foram mortos, é que ele recebeu o nome de Matusalém/homem da lança. Quando Noé nasceu seguiu os passos de seu avô Matusalém, enquanto todos os outros homens voltaram-se contra esse piedoso rei.
Era homem tão piedoso que compunha duzentas e trinta parábolas em louvor a Deus para cada palavra que proferia. Quando ele morreu as pessoas ouviram uma grande comoção no céu, e viram novecentas fileiras de lamentadores, correspondendo às novecentas ordens da Mishná que ele havia estudado, e lágrimas rolaram dos seres santos sobre o lugar em que ele havia morrido. Vendo a dor dos celestiais, as pessoas na terra também lamentaram o fim de Matusalém, e Deus por essa razão os recompensou, acrescentando sete dias ao tempo de graça que havia ordenado antes de trazer a destruição sobre a terra por meio de um dilúvio de água.

Postar um comentário

Anterior Próxima

نموذج الاتصال