Dizem que há muito tempo viveu um homem cruel e sem
coração.
Ele maltratava a mãe, batia nos pobres, zombava da fé e não tinha
piedade de ninguém.
Quando morreu, ninguém quis rezar por ele — e, mesmo assim, o coveiro o
enterrou num canto do cemitério, sem bênção, sem cruz, sem flores.
Mas na manhã seguinte, o coveiro viu algo impossível:
a terra estava revirada e o caixão… vazio.
O corpo do homem havia voltado.
E dizem que ele começou a andar pelas noites, com a pele seca como
couro, colada nos ossos, os olhos fundos e o cheiro de podridão.
Nem o céu, nem o inferno o quiseram — por isso, ficou preso à terra,
condenado a vagar para sempre, atacando quem encontra.
Desde então, as pessoas dizem que o Corpo Seco aparece em
estradas desertas, cemitérios e beiras de rio.
Ele se alimenta da energia dos vivos — e sua presença é anunciada por um mau
cheiro insuportável e um vento frio que surge do nada.
A história do Corpo Seco é um conto moral de
origem popular, com forte influência do catolicismo rural e das crenças
em punição divina.
Ela nasce da ideia de que existem pessoas tão más, tão frias e cruéis, que nem
Deus, nem o Diabo as querem após a morte, ou seja, elas são amaldiçoadas.
Essas almas não vão para o céu — porque nunca pediram
perdão.
Mas também não descem ao inferno — porque o próprio demônio recusa algo tão
corrompido.
Assim, ficam presas à terra, condenado a vagar eternamente.
Nas antigas comunidades rurais, o Corpo Seco simbolizava:
- O
castigo da impiedade.
- O
medo da maldição eterna, sem perdão e sem descanso.
- A
lembrança moral de que toda ação ruim tem retorno — mesmo depois da
morte.